segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

                          BELL HOOKS


Apesar das diversas mudanças na política racial, às mulheres negras
continuam obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é
considerado um assunto sério. Insistem em se aproveitar da
insegurança que nós mulheres negras sentimos com respeito a
nosso valor na sociedade de supremacia branca!
Nas manhãs de sábado, nos reuníamos na cozinha para arrumar o
cabelo, quer dizer, para alisar os nossos cabelos. Os cheiros de óleo
e cabelo queimado misturavam-se com os aromas dos nossos
corpos acabados de tomar banho e o perfume do peixe frito.
Não íamos ao salão de beleza. Minha mãe arrumava os nossos cabelos. Seis filhas: não
havia a possibilidade de pagar cabeleireira. Naqueles dias, esse processo de alisar o
cabelo das mulheres negras com pente quente (inventado por Madame C. J. Waler) não
estava associado na minha mente ao esforço de parecermos brancas, de colocar em
prática os padrões de beleza estabelecidos pela supremacia branca. Estava associado
somente ao rito de iniciação de minha condição de mulher. Chegar a esse ponto de poder
alisar o cabelo era deixar de ser percebida como menina (a qual o cabelo podia estar
lindamente penteado e trançado) para ser quase uma mulher. Esse momento de transição
era o que eu e minhas irmãs ansiávamos.
Fazer chapinha era um ritual da cultura das mulheres negras, um ritual de intimidade. Era
um momento exclusivo no qual as mulheres (mesmo as que não se conheciam bem)
podiam se encontrar em casa ou no salão para conversar umas com as outras, ou
simplesmente para escutar a conversa. Era um mundo tão importante quanto à barbearia
dos homens, cheia de mistério e segredo.
Tínhamos um mundo no qual as imagens construídas como barreiras entre a nossa
identidade e o mundo eram abandonadas momentaneamente, antes de serem
reestabelecidas. Vivíamos um instante de criatividade, de mudança.
Eu queria essa mudança mesmo sabendo que em toda a minha vida me disseram que eu
era "abençoada" porque tinha nascido com "cabelo bom" – um cabelo fino, quase liso –,
não suficientemente bom, mais ainda assim era bom. Um cabelo que não tinha o "pé na
senzala", não tinha carapinha, essa parte na nuca onde o pente quente não consegue
alisar. Mas esse "cabelo bom" não significava nada para mim quando se colocava como
uma barreira ao meu ingresso nesse mundo secreto da mulher negra.
Eu regozijei de alegria quando a minha mãe finalmente decretou que eu poderia me
somar ao ritual de sábado, não mais como observadora, mas esperando pacientemente a
minha vez. Sobre este ritual escrevi o seguinte:
Para cada uma de nós, passar o pente quente é um ritual importante. Não é um símbolo
de nosso anseio em tornar-nos brancas. Não existem brancos no nosso mundo íntimo. É
um símbolo de nosso desejo de sermos mulheres.
É um gesto que mostra que estamos nos aproximando da condição de mulher [...] Antes
que se alcance a idade apropriada, usaremos tranças; tranças que são símbolo de nossa
inocência, juventude, nossa meninice. Então, as mãos que separam, penteiam e traçam
nos confortam. A intimidade e a sina nos confortam.
Existe uma intimidade tamanha na cozinha aos sábados quando se alisa o cabelo,
quando se frita o peixe, quando se fazem rodadas de refrigerante, quando a música soul
flutua sobre a conversa.
É um instante sem os homens. Um tempo em que trabalhamos como mulheres para
satisfazer umas as necessidades das outras, para nos proporcionarmos um bem-estar
interior, um instante de alegrias e boas conversas.
Levando em consideração que o mundo em que vivíamos estava segregado racialmente,
era fácil desvincular a relação entre a supremacia branca e a nossa obsessão pelo
cabelo. Mesmo sabendo que as mulheres negras com cabelo liso eram percebidas como
mais bonitas do que as que tinham cabelo crespo e/ou encaracolado, isso não era
abertamente relacionado com a idéia de que as mulheres brancas eram um grupo
feminino mais atrativo ou de que seu cabelo liso estabelecia um padrão de beleza que as
mulheres negras estavam lutando para colocar em prática.
Esse momento é um marco histórico e ideológico do qual emergiu o processo de
alisamento do cabelo de mulheres negras. Esse processo foi ampliado de maneira tal que
estabeleceu um espaço real de formação de íntimos vínculos pessoais da mulher negra
mediante uma experiência ritualística compartilhada.
O salão de beleza era um espaço de aumento da consciência, um espaço em que as
mulheres negras compartilhavam contos, lamúrias, atribulações, fofocas – um lugar onde
se poderia ser acolhida e renovar o espírito.
Para algumas mulheres, era um lugar de descanso em que não se teria de satisfazer as
exigências das crianças ou dos homens. Era a hora em que algumas teriam sossego,
meditação e silêncio. Entretanto, essas implicações positivas do ritual do alisamento do
cabelo ponderavam, mas não alteravam as implicações negativas. Essas existiam
concomitantemente.
Dentro do patriarcado capitalista – o contexto social e político em que surge o costume
entre os negros de alisarmos os nossos cabelos –, essa postura representa uma imitação
da aparência do grupo branco dominante e, com freqüência, indica um racismo
interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa auto-estima.
Durante os anos 1960, os negros que trabalhavam ativamente para criticar, desafiar e
alterar o racismo branco, sinalavam a obsessão dos negros com o cabelo liso como um
reflexo da mentalidade colonizada. Foi nesse momento em que os penteados afros,
principalmente o black, entraram na moda como um símbolo de resistência cultural à
opressão racista e fora considerado uma celebração da condição de negro(a).
Os penteados naturais eram associados à militância política. Muitos(as) jovens
negros(as), quando pararam de alisar o cabelo, perceberam o valor político atribuído ao
cabelo alisado como sinal de reverência e conformidade frente às expectativas da
sociedade.
Entretanto, quando as lutas de libertação negra não conduziram à mudança
revolucionária na sociedade, não se deu mais tanta atenção à relação política entre a
aparência e a cumplicidade com o segregacionismo branco, e aqueles que outrora
ostentavam os seus blacks começaram a alisar o cabelo.
Sem ficar atrás dessa manobra para suprimir a consciência negra e os esforços das
pessoas negras por serem sujeitos que se autodefinem, as empresas brancas
começaram a reconhecer os negros, e de maneira especialíssima, às mulheres negras,
como consumidoras potenciais de produtos que poderiam ser subministrados, incluindo
aqueles para os cuidados com o cabelo. Permanentes especialmente concebidos para as
mulheres negras eliminaram a necessidade do pente quente e da chapinha. Esses
permanentes não só custavam mais caro, mas também levavam todas as economias e
ganâncias das comunidades negras, especificamente dos bolsos das mulheres negras
que anteriormente colhiam benefícios materiais (ver Como o Capitalismo Desenvolveu a
América Negra, de Manning Marable, South End Pree).
O contexto do ritual havia desaparecido, não haveria mais a formação de vínculos íntimos
e pessoais entre as mulheres negras. Sentadas embaixo de secadores barulhentos, as
mulheres negras perderam um espaço para o diálogo, para a conversa criativa.
Desposadas desses rituais de formação de íntimos vínculos pessoais positivos, que
rodeavam tradicionalmente a experiência, o alisamento parecia cada vez mais um
significante da opressão e da exploração da ditadura branca.
O alisamento era claramente um processo no qual as mulheres negras estavam mudando
a sua aparência para imitar a aparência dos brancos. Essa necessidade de ter a
aparência mais parecida possível à dos brancos, de ter um visual inócuo, está relacionada
com um desejo de triunfar no mundo branco. Antes da integração, os negros podiam se
preocupar menos sobre o que os brancos pensavam sobre o seu cabelo.
Em discussão sobre a beleza com mulheres negras em Spelman College , as estudantes
falavam sobre a importância de ter o cabelo liso quando se procura um emprego.
Estavam convencidas, e provavelmente com toda a razão, de que sua oportunidade de
encontrar bons empregos aumentaria se tivessem cabelo alisado. Quando se pediam
mais detalhes sobre essa assertiva, essas mulheres se concentravam na conexão entre
as políticas radicais e os penteados naturais, seja com ou sem tranças. Uma jovem que
tinha o cabelo natural e curto falava até mesmo em comprar uma peruca de cabelo liso e
comprido na hora de procurar emprego.
Nenhuma das participantes pensava na possibilidade de que nós mulheres negras
éramos livres para usar os nossos cabelos naturais sem refletir sobre as possíveis
conseqüências negativas. Com freqüência, os adultos negros, os mais velhos,
especialmente os pais, respondiam negativamente aos penteados naturais. Contei ao
grupo que, quando cheguei em casa com o cabelo trançado logo após conseguir um
emprego em Yale, os meus pais me disseram que eu tinha um aspecto desagradável.
Apesar das diversas mudanças na política racial, as mulheres negras continuam
obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é considerado um assunto sério.
Por meio de diversas práticas insistem em se aproveitar da insegurança que nós
mulheres negras sentimos a respeito de nosso valor na sociedade de supremacia branca.
Conversando com grupos de mulheres em diversas cidades universitárias e com
mulheres negras em nossas comunidades, parece haver um consenso geral sobre a
nossa obsessão com o cabelo, que geralmente reflete lutas contínuas com a auto-estima
e a auto-realizaçã o. Falamos sobre o quanto as mulheres negras percebem seu cabelo
como um inimigo, como um problema que devemos resolver, um território que deve ser
conquistado. Sobretudo, é uma parte de nosso corpo de mulher negra que deve ser
controlado. A maioria de nós não foi criada em ambientes nos quais aprendêssemos a
considerar o nosso cabelo como sensual, ou bonito, em um estado não processado.
Muitas de nós falamos de situações nas quais pessoas brancas pedem para tocar o
nosso cabelo natural e demonstram grande surpresa quando percebem que a textura é
suave ou agradável ao toque.
Aos olhos de muita gente branca e outras não negras, o black parece palha de aço ou um
casco. As respostas aos estilos de penteado naturais usados por mulheres negras
revelam comumente como o nosso cabelo é percebido na cultura branca: não só como
feio, como também atemorizante. Nós tendemos a interiorizar esse medo.O grau em que
nos sentimos cômodas com o nosso cabelo reflete os nossos sentimentos gerais sobre o
nosso corpo.
Em nosso grupo de apoio de mulheres negras, Irmãs do Yam, conversávamos sobre
como não gostávamos de nossos corpos, especialmente nossos cabelos. Sugeri ao grupo
que considerássemos o nosso cabelo como se ele não fizesse parte do nosso corpo, mas
que se percebesse como algo separado, de novo um território que deve ser controlado,
domado.
Para mim era importante que fosse vinculada a necessidade de controlar o cabelo com a
repressão sexual. Tendo curiosidade sobre o que passavam as mulheres negras que
faziam chapinha ou que fizessem amaciamento, permanente ou outras químicas, quando
refletiam sobre a relação do cabelo alisado e a prática sexual, perguntei se as pessoas se
preocupavam com o cabelo delas, se temiam que seus pares tocassem os seus cabelos.
Sempre tive a impressão de que o cabelo alisado chama a atenção pelo desejo de que
permaneça no mesmo lugar. Não foi surpreendente que muitas mulheres negras
respondessem que se sentiam incomodadas se as pessoas se concentravam e davam
muita atenção aos seus cabelos, sentiam como se o seu cabelo estivesse desordenado,
fora de controle. Isso porque aquelas de nós que já liberaram o seu cabelo e deixamos
que ele se movimente na direção que ele queira, freqüentemente, recebemos comentários
negativos.
Olhando fotografias de mim mesma e das minhas irmãs de quando tínhamos o cabelo
alisado no segundo grau, percebi que parecíamos ter mais idade do que quando
deixamos o cabelo natural. É irônico viver em uma cultura que enfatiza tanto a
necessidade das mulheres serem ou parecerem jovens, mas por outro lado incentiva as
mulheres negras a mudarem os seus cabelos de maneira tal que parecemos ser mais
velhas.
No último semestre, estávamos lendo O Olho mais azul, de Toni Morrison, em uma aula
de Literatura. Pedi aos estudantes que escrevessem textos autobiográficos, que
refletissem sobre o que eles pensavam sobre a relação entre raça e beleza física. Uma
grande maioria das mulheres negras escreveu sobre os seus cabelos. Quando eu
perguntei isoladamente a algumas delas porque continuavam alisando o cabelo, muitas
atestaram que os penteados naturais não ficavam bonitos nelas, ou que demandavam
muito trabalho. Emily, uma das minhas favoritas, de cabelo curto sempre alisava, e eu lhe
questionava e desafiava, até que ela me explicou de maneira muito convincente que um
penteado natural ficaria horrível no seu rosto, que ela não tinha a fronte nem a estrutura
óssea apropriada.
No semestre seguinte, nos reencontramos e ela me contou que durante as férias tinha ido
ao salão fazer o permanente e, enquanto esperava, pensou sobre as leituras e as
discussões de sala de aula e percebeu que estava realmente muito incomodada e
amedrontada com a idéia de que as pessoas achassem que ela não seria mais atraente
se não alisasse o cabelo. Reconheceu que esse medo estava enraizado nos sentimentos
de baixa auto-estima. Decidiu fazer uma mudança e se surpreendeu, pois estava linda e
muito atraente. Conversamos bastante sobre como dói perceber a relação entre a
opressão racista e os argumentos que usamos para convencer a nós mesmas e aos
outros de que não somos belos ou aceitáveis como somos.
Em inúmeras discussões com mulheres negras sobre o cabelo, ficou constatado um
manifesto de que um dos fatores mais poderosos que nos impedem de usarmos o cabelo
sem química é o temor de perder a aprovação e a consideração das outras pessoas. As
mulheres negras heterossexuais falaram sobre o quanto os homens negros respondem
de forma mais favorável quando se tem um cabelo liso ou alisado. Entre as
homossexuais, muitas afirmam que não alisavam o cabelo por uma reflexão de que esse
gesto estaria vinculado à heterossexualidade e à necessidade de aprovação do macho.
Lembro-me de ter visitado uma amiga com seu par, um homem negro, em Nova York , faz
anos, e tivemos uma intensa discussão sobre o cabelo. Ele se encarregou de me dizer
que eu poderia ser uma irmã excelente (bonita) se fizesse algo ("dar um jeito") com o meu
cabelo. Por dentro pensei que a minha mãe o tinha contratado. O que me lembro é do
espanto quando com calma e entusiasmo garanti que eu gostava do tato no cabelo não
processado.
Quando os estudantes lêem sobre raça e beleza física, várias mulheres negras
descrevem fases da infância em que estavam atormentadas e obcecadas com a idéia de
ter cabelos lisos, já que estavam tão associados à idéia de essas serem desejadas e
amadas. Poucas mulheres receberam apoio de suas famílias, amigos(as) e parceiros(as)
amorosos(as) quando decidiam não alisar mais o cabelo. E temos várias histórias para
contar sobre os conselhos recebidos de todo o mundo, até mesmo de pessoas
completamente estanhas, que se sentem gabaritadas para atestar que parecemos mais
bonitas se "arrumamos" (alisamos) o cabelo.
Quando eu ia para a minha entrevista de emprego em Yale, conselheiras brancas que
nunca haviam feito nenhum comentário sobre o meu cabelo me animaram para que eu
não usasse tranças ou um penteado natural grande (black) na entrevista. Elas não
disseram "alisa o seu cabelo", sugeriam que eu mudasse o meu estilo de cabelo de modo
tal que parecesse ao máximo ao cabelo delas, indicando certo conformismo. Usei tranças
e ninguém pareceu notar. Quando fui contratada, não perguntei se importava ou não que
eu usasse tranças. Conto essa história aos meus alunos para que saibam que nem
sempre temos de renunciar a nossa capacidade de ser pessoas que se autodefinem para
ter sucesso no emprego.
Já percebi que o meu estilo de cabelo às vezes incomoda os estudantes durante as
minhas conferências. Certa vez, em uma conferência sobre mulheres negras e liderança,
entrei em um auditório repleto com o meu cabelo sem química, fora de controle e
desordenado. A grande maioria das mulheres negras que ali estavam tinham o cabelo
alisado. Muitas delas foram hostis com olhares de desdém. Senti como se estivesse
sendo julgada, como uma marginal, indesejável. Tais julgamentos se fazem
especialmente direcionado às mulheres negras nos Estados Unidos que resolvem usar
dreads. São consideradas, com toda razão, da antítese do alisamento, o que torna o seu
estilo uma decisão política. Freqüentemente, as mulheres negras expressam desprezo
por aquelas de nós que escolhemos essa aparência.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que o cabelo natural é um motivo de desatenção e
desdém, somos testemunhas da volta da moda das pinturas, mechas loiras, cabelo
comprido. Em seus escritos, minhas alunas negras descreveram o uso de mechas
amarelas em suas cabeças quando eram meninas, para fingir ter o cabelo comprido e
loiro. Recentemente as cantoras que estão trabalhando para ser atrativas para a platéia
branca, para serem consideradas como artistas que ampliaram o público, usam implantes
e apliques para conseguir cabelos compridos e lisos. Parece haver um nexo definido entre
a popularidade de uma artista negra com auditórios brancos e o grau em que ela trabalha
para parecer branca, ou para encarnar aspectos do estilo branco. Tina Tuner e Aretha
Franklin foram percussoras dessa tendência, as duas pintavam o cabelo de loiro. Na vida
cotidiana vemos cada vez mais mulheres usando cada vez mais químicas para ter cabelo
liso e loiro.
Em uma de minhas conversas que se concentravam na construção social da identidade
da mulher negra dentro de uma sociedade sexista e racista, uma mulher negra veio até
mim no final da discussão e me contou que sua filha de sete anos de idade estava
deslumbrada com a idéia do cabelo loiro, de tal forma que ela havia feito uma peruca que
imitava os cachinhos dourados. Essa mãe queria saber o que estava fazendo de errado
em sua tutela, já que sua casa era um lugar onde a condição de negro era afirmada e
celebrada. Mas ela não havia considerado que o seu cabelo alisado era uma mensagem
para a sua filha: nós mulheres negras não somos aceitas a menos que alteremos nossa
aparência ou textura do cabelo.
Recentemente conversei com uma de minhas irmãs mais novas sobre o seu cabelo. Ela
usa tintura de cores berrantes em diversos tons de vermelho. No que lhe diz respeito,
essas escolhas de cabelo pintado e alisado estavam diretamente relacionadas com
sentimentos de baixa auto-estima. Ela não gosta dos seus traços e acredita que o estilo
de cabelo transforma a sua fisionomia. O que eu percebia era que a escolha dela na
realidade chamava mais atenção para a sua fisionomia e era tudo o que ela pretendia
ocultar.
Quando ela comentou que com essa aparência ela recebia mais atenção e elogios, sugeri
que a reação positiva podia ser resposta direta da sua própria projeção de um alto nível
de auto-satisfaçã o. As pessoas podem estar respondendo a isso e não à tentativa de
ocultar ou mascarar o seu fenótipo. Conversamos sobre as mensagens que estava
mandando para as suas filhas de pele escura: que elas certamente seriam aceitas se
alisassem os seus cabelos!
Certo número de mulheres afirmou que essa é uma estratégia de sobrevivência: é mais
fácil de funcionar nessa sociedade com o cabelo alisado. Os problemas são menores; ou,
como alguns dizem, "dá menos trabalho" por ser mais fácil de controlar e por isso toma
menos tempo. Quando respondi a esse argumento em uma discussão em Spelman
College , sugeri que talvez o fato de gastar tempo com nós mesmas cuidando de nossos
corpos é também um reflexo de uma sensação de que não é importante ou de que nós
não merecemos tal cuidado. Nesse grupo e em outros, as mulheres negras falavam de ter
sido criadas em famílias que ridicularizavam ou consideravam desperdício gastar muito
tempo com a aparência.
Independentemente da maneira como escolhemos individualmente usar o cabelo, é
evidente que o grau em que sofremos a opressão e a exploração racistas e sexistas afeta
o grau em que nos sentimos capazes tanto de auto-amor quanto de afirmar uma presença
autônoma que seja aceitável e agradável para nós mesmas. As preferências individuais
(estejam ou não enraizadas na autonegação) não podem escamotear a realidade em que
nossa obsessão coletiva com alisar o cabelo negro reflete psicologicamente como
opressão e impacto da colonização racista.
Juntos racismo e sexismo nos recalcam diariamente pelos meios de comunicação. Todos
os tipos de publicidade e cenas cotidianas nos aferem a condição de que não seremos
bonitas e atraentes se não mudarmos a nós mesmas, especialmente o nosso cabelo. Não
podemos nos resignar se sabemos que a supremacia branca informa e trata de sabotar
nossos esforços por construir uma individualidade e uma identidade.
Como nas lutas organizadas que aconteceram nos anos 1960 e princípios da década de
1970, as mulheres negras, como indivíduos, devemos lutar sozinhas por adquirir a
consciência crítica que nos capacite para examinar as questões de raça e beleza e pautar
nossas escolhas pessoais de um ponto de vista político.
Existem momentos em que penso em alisar o meu cabelo só por capricho, aí me lembro
que, mesmo que esse gesto pudesse ser simplesmente festivo para mim, uma expressão
individual de desejo, eu sei que gesto semelhante traria outras implicações que fogem ao
meu controle. A realidade é que o cabelo alisado está vinculado historicamente e
atualmente a um sistema de dominação racial que é incutida nas pessoas negras, e
especialmente nas mulheres negras de que não somos aceitas como somos porque não
somos belas.
Fazer esse gesto como uma expressão de liberdade e opção individual me faria cúmplice
de uma política de dominação que nos fere. É fácil renunciar a essa liberdade. É mais
importante que as mulheres façam resistência ao racismo e ao sexismo que se dissemina
pelos meios de comunicação, e tratarem para que todo aspecto da nossa autorepresentaçã
o seja uma feroz resistência, uma celebração radical de nossa condição e
nosso respeito por nós mesmas.
Mesmo não tendo usado o cabelo alisado por muito tempo, isso não significa que eu era
capaz de desfrutar ou realmente apreciar meu cabelo em estado natural. Durante anos,
ainda considerava isso um problema. Ele não era natural o suficiente, crespo o necessário
para fazer um black interessante e decente, o cabelo era muito fino. Essas queixas
expressavam a minha continua insatisfação. A verdadeira liberação do meu cabelo veio
quando parei de tentar controlar em qualquer estado e o aceitei como era.
Só há poucos anos é que deixei de me preocupar com o quê os outros possam dizer
sobre o meu cabelo. Só nesses últimos anos foi que eu sentir consecutivamente o prazer
lavando, penteando e cuidando do meu cabelo. Esses sentimentos me lembram o
aconchego e o deleite que eu sentia quando menina, sentada entre as pernas de minha
mãe, sentindo o calor do seu corpo e do seu ser enquanto ela penteava e trançava o meu
cabelo.
Em uma cultura de dominação e antiintimidade, devemos lutar diariamente por
permanecer em contato com nos mesmos e com os nossos corpos, uns com os outros.
Especialmente as mulheres negras e os homens negros, já que são nossos corpos os que
freqüentemente são desmerecidos, menosprezados, humilhados e mutilados em uma
ideologia que aliena. Celebrando os nossos corpos, participamos de uma luta libertadora
que libera a mente e o coração.
Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do
espanhol: Lia Maria dos Santos. Retirado do blog coletivomarias.blogspot.com/.../alisando-o-nossocabelo.
html

terça-feira, 12 de junho de 2012

ÁFRICA FOI INVADIDA OU FOI DESCOBERTA? 

          Ah! Sim. Pergunto, quem então descobriu este continente tão antigo? Claro diria que são os europeus. FALSA. A falsa concepção. Ninguém descobriu ninguém. O continente africano existia e continuam existindo física e populacionalmente antes da chegada dos europeus. Esse continente nunca se manteve isolado pela história. Antes dos colonos europeus havia forte contato do povo africano com o povo dos outros continentes como Europa, Ásia que se mantinham em constante ato comercial. Não é por acaso que esta palavra se originou do grego aprica que significa em português: exposta ao sol
         Fico-me triste, quando oiço do próprio africano, este insulto de que a África foi civilizada pelos europeus. MENTIRA. Antes dos colonos europeus, já havia existido uma forte indústria têxtil na África. Os produtos dessa indústria, tecidos no caso, eram exportados para a Europa e para os países asiáticos e até a China. Era só isso? E as escritas? Esqueceu-se que elas não nasceram na Europa? Pois é, não surgiram na Europa, mas, sim, no Egito. E o Egito é a parte da África. Ainda mais, que você diria sobre isto: "O BATÃO DE ISHANGO?" Prossiga-se: "o Bastão de Ishango é um pequeno objeto encontrado em pleno coração da África, datado de 15 mil anos antes dos cálculos dos faráos e antes do surgimento da matemática na Grécia. o bastão constitui o mais antigo testemunho matemático da humanidade," (ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. A História da África na Educação Básica: Almanaque Pedagógico). Resumindo: a África se civilizou primeiro que a Europa. Infelizmente, hoje houve a forte influência da civilização europeia acima da civilização africana, levando o povo africano ignorando seus próprios valores. Começando pela desvalorização de sua própria língua. Colocando a língua dos colonizadores europeus sobre as línguas nacionais, alegando que as línguas nacionais não têm prestígios internacionais. MENTIRA! Simplesmente é o PENSAMENTO DE QUEM PERDE A "GUERRA." Consequentemente aprovando o antigo imaginário dos colonizadores, no que se diz respeito à inferioridade do homem negro em todos os aspectos. Pensamento preconceituoso, pior de tudo ensinado direta ou indiretamente nas escolas, para se acomodar e permanecer aceitar eternamente a superioridade de uma raça sobre a outra. Ou seja, o homem branco - europeu, como fonte do saber. 
          Concluindo, a África não foi descoberta por ninguém, mas, sim, invadida, pilhada sangrentamente pelos europeus, que continuam pilhando-a em colaboração de certos dirigentes "intelectuais" e "políticos" africanos. Certamente, como se viu acima, o continente africano, antes dos europeus viveu sua diversa prosperidade econômica, política e cultural. Comercializava com diversos povos. Por isso, nunca se deixe ser alienado com as falsas teorias, produzidas por eles mesmos - o homem branco - europeu, no caso. Pense e reflita-se sempre sobre seus valores deixados pelos seus ancestrais, há miliares de ano. 
Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br    

quarta-feira, 23 de maio de 2012

 ANÁLISE DO LIVRO NOITE DAS LÁGRIMAS EM ÁFRICA PELO PROFESSOR E ESCRITOR: HÉLIOS J. RODRIGUES

Comentário do livro: NOITE DAS LÁGRIMAS EM ÁFRICA, do escritor guineense, MARCELO ARATUM


Era numa tarde de verão, o sol estava se pondo, parecendo que levava consigo as lágrimas minhas.” Escritas essas primeiras linhas, podemos imaginar a dimensão que se impregna nessa narrativa na medida em que o autor se apropria de uma linguagem que promete dar à obra uma leitura de “longo alcance”, isto é, uma leitura que propõe, por parte do leitor, alta reflexão numa visão cravada às palavras que se alinham com uma sequencia de ideias para o ato narrativo a cada trecho em que o raciocínio do escritor se finda. Narrativa que nos faz situar a uma época não tão longínqua, mas distante da realidade em que fazemo-nos presentes em choque com aquela que nos impressiona do início ao fim pelo modo como o autor aborda o tema do enredo através de uma personagem buscada num mundo conturbado onde há uma luta travada entre o poder e a massa dos oprimidos, personagem essa que se molda em um indivíduo vivente num ambiente de condições precárias. Personagem-narrador ou narrador-protagonista como bem adequar o termo, inspirada numa mulher de origem humilde que não tem conhecimento de letras e pobre, mas porta um alto senso crítico do mundo que a circunda, Nhá Dona Badjudessa.

A ESTRUTURA DO LIVRO

Por meio dessa figura notória, o leitor se situará de uma realidade drástica e desumana para com a classe baixa, a chamada massa popular, vista como uma espécie de base que sustenta os pilares da oligarquia. Para relatar essa época de incessantes conflitos entre os poderosos e os oprimidos, o livro é dividido em três partes que compõem o segundo momento, cada parte subdividida em capítulos para o discernimento do enredo. São elas: Primeiro JulgamentoSegundo Julgamento e Julgamento Final. Mas o início da obra se dá no primeiro momento, Momentos de Lembranças e Reflexão, composto por cinco capítulos, o começo, a introdução de uma história em que as primeiras personagens ganham destaque à medida que a narradora-protagonista revela traços peculiares da índole de cada um que ela vem a nos apresentar.

TESTEMUNHA VIVA

O Escritor Marcelo Aratum faz uma volta ao passado do tempo atual para relatar em minúcias a rotina da época em que o colonialismo assoprava-se pelos quatros cantos do país de Guiné-Bissau. De um lado, as diversas faces do poder que imperava de forma ditatorial sobre um povo que buscava refúgio ao silêncio, de outro, esse mesmo povo, com anseio de clamar por uma independência aquém daquela que romperia as correntes que aprisionam as mentes das pessoas.Em meio a esse motim que se ecoava dos sons produzidos pelas armas de última geração importadas, das mãos dos comparsas dos poderosos, contrastando-se aos gritos da multidão pelas ruas. Eis que aponta, Badjudessa, a protagonista dessa estória como uma testemunha “viva” aos acontecimentos que certamente marcariam essa fase de sua vida. Sofre de dois lados as angústias que a importunam ininterruptamente. Os problemas familiares, a começar pela perda da guarda de três filhas suas para tentar escapar de um marido que a torturava de todas as formas, a enfermidade de seu filho caçula ainda bebê que a apoquentara, uma vez que ele não conseguiria resistir por muito tempo.                                     A CULTURA

As constantes intrigas com Ocante, seu marido, voltava-se a outra questão para ela como um fator preocupante: os valores culturais. Nhá Dona Badjudessa tem a seguinte visão de que a cultura de uma nação não é um mero objeto que vangloria a sua imagem e denigre a de outros povos, mas algo que caracteriza em particular os costumes impregnados em seu modo de vida num espaço físico de onde se originara, não julga outra cultura desde que essa não se sobrepõe àquela. Mas se rebela diante das imposições dos estrangeiros com ensinamentos provenientes de sua cultura, questiona, por exemplo, a religião por eles impostas, fator que influencia em peso a vida de um povo ausente de conhecimentos no campo sócio-educativo-econômico e político. Ocante figura-se nesse indivíduo que cultua um Deus padrão, um Deus importado, irracionalmente, acolhendo-se ao comodismo. Atitude que provoca em Badjudessa uma reação de repugnância, pois que vê o seu marido como um acorrentado aos preceitos dos dominantes estrangeiros.

A FUGA

Decide mediante o medo que a assombra, de os “demônios”, como ela  denomina os paisanos, as tropas de segurança do governo ditatorial, a fugir da cidade onde se encontra para acolher-se noutra longe das ameaças a vidas inocentes, ressaltando as crianças como as maiores vítimas. Vítimas não só das violências físicas, mas das mentes em processo de formação a essas almas infantis.

OS CAMARADAS

O fim do colonialismo português que dominara por séculos o país, marcava os primeiros momentos da independência sobre uma nação que sonhava e se despertava com o sopro da liberdade. Uma tropa de guerrilheiros conhecidos como os Camaradas eram aos olhos do povo guinebissauense os salvadores da pátria, uma vez que declamavam sonoramente em seus ouvidos discursos de mudanças no país.Inicia-se a partir da chegada dos camaradas o “Primeiro Julgamento”, composto por quarenta e quatro capítulos que abordam delinearmente o abuso de autoridade no comando dos camaradas depois de se apossarem do poder.
No começo, visto por uma nação oprimida, como heróis, de repente, os camaradas se  transformam. Tornam-se vilões, até piores, dentro de uma ótica em que se comparam as fases de um período dividido por antes e depois do fim do colonialismo português. Antes, era um governo explorador que saqueara todas as riquezas naturais de uma terra, mas, sobretudo, os sonhos de uma nação em ser livre e independente para bordar o enredo de sua própria história. Depois, predominou um governo com um discurso ilusório, formado por líderes nativos da própria terra, ao declarar que a nação não mais viveria sobre a escravidão que a impedia sequer de sonhar com um país em que todos poderiam um dia almejar a felicidade.Esse mesmo governo traía a confiança de sua própria nação, praticando os mesmos atos do governo da era colonial. Um governo que vivia sob as sombras da corrupção ao importar bens materiais e nutrir-se dos valores culturais da nação estrangeira.Para um povo, o pior governo comparado à época em que seu país era um território pertencente ao domínio português. Pois, que vivia sob um sistema ditatorial em que a censura e a reprimenda espalhavam terror e medo nos corações de uma nação sofrida, enquanto que no governo da era colonial, via-se uma mão cuidando afavelmente de seu povo, embora com a outra martirizasse o povo desta terra.Mas, o espírito de luta houvera de se impregnar em muitos corações daqueles que clamavam por justiça diante de tanta crueldade para com o povo guinebissauense, sem abrirem mãos de um antigo sonho: um país livre, um país independente, um país autônomo para conduzir sua nação no caminho do progresso e de todas as virtudes que realçam o ser humano.

DEMOCRACIA

Nesse momento, surgem novos heróis no cenário político com uma ideologia que tomaria o país a um novo rumo, onde não se pudesse seguir, ou melhor, se acorrentar num pensamento modelo, o pensamento dominador.Um novo sistema de governo sob o qual fluiriam pensamentos diversos em prol do desenvolvimento do país. “Democracia” era a nova linguagem do discurso que soava aos ouvidos de milhares de nativos do pedaço de terra do continente africano, os quais aspiravam uma nova esperança.Dentre os novos pensadores no meio político, desenhava-se um novo protagonista chamado Butcheri. Homem que possuía uma grande bagagem no campo sócio-político-econômico e cultural, letrado e amador da causa em favor dos oprimidos pelo governo ditatorial.Um político que conseguiu seduzir o coração, por exemplo, de um jovem que até então não se deixava influenciar por discursos demagógicos daqueles que ocultavam suas faces sombrias.  Di Ocante, desde o primeiro instante, viu em Butcheri um líder nato cujo pensamento ideológico sobrelevava-se a todos os demais que seus ouvidos haviam testemunhado, a tal ponto que se fizera um discípulo.Mas para o jovem a sonhada democracia estava longe de romper-se da esfera imaginária para vir a ser um sistema anti-ditatorial a aprofundar suas raízes nas mentes novas de todos os nativos de coração, sendo políticos ou pensadores críticos, para iniciar uma mudança no país.Povo, na sua visão considerado criaturas irracionais que se acomodavam em seus espaços, mesmos estes não oferecendo condições propícias para as suas sobrevivências. Todavia, este mesmo povo portava conhecimento sobre a democracia a ponto de ter se iludido com discursos inexpressivos quanto à implantação do novo sistema de governar o país. Essa ilusão mais tarde tornou-se para a nação guinebissauense desilusão amarga diante das urnas cuja apuração do resultado para presidente do país foi fraudada por meio de artimanhas diversas. Novamente o país ficava refém de uma máfia considerada a praga da nação em que cada indivíduo nascido e criado nesta terra se asfixiava em seu próprio pensamento, uma vez que este recuava e se isolava diante da censura implacável que calava a mão de ferro quem se manifestasse contra o governo.
GENERAL BRUTO CORAÇÃO DE LEÃO 

Mas, o fim de uma era de puro despotismo em que a vida e a morte se confrontavam constantemente em meio aos gritos de intensa dor e revolta era chegado. Chegado também o início de uma nova transição que não se saberia dizer por onde apertasse a alavanca. Pois que em cada rua da capital, da oprimida Guiné-Bissau via-se através dos olhos de Di Ocante um ambiente descaracterizado, completamente desconhecido daquele que fora o centro de combate entre duas forças: povo x governo. Dessa longa luta travada, um vencedor haveria de dar sinais de seu triunfo sobre o seu inimigo gradativamente, visto que o derrotado, imbatível em sua força descomunal e vencido quase todas as batalhas se extinguiria como uma última chama sob o forte vendaval.Eis que naquele instante, o filho de Nhá Badjudessa via com olhos inacreditáveis um homem tido como força sobre-humana, algemado feito um criminoso comum chamado General Bruto Coração de Leão. Um anti-herói que mudaria para sempre a vida de uma nação sofrida e oprimida em seus sonhos, desejos e pensamentos depois de, finalmente, perder uma luta interminável que preservava o seu reinado.


Professor e Escritor, Hélios J. Rodrigues                                
                                                                                                                                                                                                                                              heliosrod@hotmail.com



quinta-feira, 19 de abril de 2012


CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

Assim dizem: a CEDEAO quer reconhecer o governo saído de Golpe de Estado. Quer reconhecer ou vai reconhecer? Guineenses, por favor, vamos parar de ver e falar das coisas concretas, ou seja, que estão acontecendo, e partimos a refletir e abstrair sobre tais coisas. Visto que, todos os problemas da Guiné-Bissau nunca nasceu de um simples acaso, mas, foi e é uma armação, um projeto de longo prazo. Por que você tem medo de afirmar que existem pessoas ou guineenses legítimos pagos ou manipulados, para criar instabilidade e entregar ou transformar os nossos valores aos valores regionais? Ainda mais, pensa que é por acaso que o CEDEAO, segundo o noticiário, no site, bissaudigital, financiou o candidato independente, Serifo Nhamadjo? Por favor, acorde-se e reflita-se um pouco sobre a figura desse homem. Será que ele não carrega nenhum valor semelhante aos valores dos nossos vizinhos?
Guineenses, vamos parar de desencadear lutas superficialmente visíveis e pensar na profundeza intenção desses países que nos cercam. Tudo bem. Vamos percorrer os nossos olhares para aqueles que estão vivendo geograficamente a situação idêntica da nossa: Israel. A situação de Israel não é tão diferente da nossa. Esse país divide fronteiras com Líbano ao norte, Síria e Jordânia ao leste e Egito ao sudoeste. Entre tanto, o Estado de Israel é único na região, com a cultura e a religião própria, diferentemente dos demais. Havia os pretextos, as lutas, as intrigas para submeter esse Estado ao domínio dos valores estranhos, mas, sem nenhuma solução. Agora, se Israel fosse um país analfabeto, egoísta, que exaltasse as culturas, a língua e os costumes estranhos, que pensasse mais no Eu, que deixasse ser alienado por valores materiais, hoje estaria vivendo num beco sem saída. Projeto dos vinhos do povo israelita falhou e este país continua firme, marcando um Estado diferente, com a história diferente. Povo israelita sempre, nos momentos difíceis se junta para uma única causa: interesse da nação israelense. Eles nunca se entregam no choro desesperado: por favor, Comunidade Internacional vem nos salvar! Por favor, Portugal vem nos salvar! Por favor, CEDEAO vem nos salvar, etc. Mas, sim, eles acreditam na Unidade Nacional e não unidade pendurada, apenas nos discursos como a nossa Unidade Nacional, na Guiné.
           Para tanto, caso não mudarmos a maneira de pensar a Guiné-Bissau, nunca encontraremos solução para o nosso problema. Se pensarmos que o estrangeiro que vai resolver os nossos problemas, nunca encontraremos a solução para o nosso problema. Em cada noitada, na cama, devemos pensar e elaborar as estratégias, para livrarmos das perseguições e da caverna que fomos submetidos. 07 de junho de 1998 é um exemplo evidente para refletirmos sobre a dita Comunidade Internacional. Na minha modesta opinião, tenho a certeza que o sonho dos nossos vizinhos vai se concretizar: a falar a mesma língua, a praticar a mesma religião e mais outros valores estranhos.  
Marcelo Aratum   
aratum22@yahoo.com.br

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

BIOGRAFIA


Marcelo José Mendes Aratum nasceu em Bissau, Guiné-Bissau, 14 de julho 1974. Filho de pais camponeses, Cecília Mendes, da etnia mandjaco e de José Mendes Aratum,Pepel. Mendes Aratum é o único filho homem, na parte da mãe, dentre cinco irmãs Isabel, Sábado, Laurinda, Deodata (Mana) e Goia Aratum. Com dois anos, devido à doença do tio materno, em Caió, Aratum deixou Bissau, com a família, para viver na cidade de Cacheu, onde iniciou seu estudo primário e, nela, viveu toda a sua infância e juventude. Em 1983, após os primeiros estudos primários (quarta série), Mendes Aratum se transferiu para Canchungo, cidade próxima, para continuar seus estudos. Em 1988 a 1989, Aratum foi obrigado abandonar o estudo, para apoiar a mãe na construção da casa. No mesmo ano, 1989, foi levado a participar, na terra natal da mãe, em Caió, no evento cultural que acontece de dez em dez anos. Em 1990, à procura do estudo, ele seguiu-se para Bissau, mas, só se matriculou, no ano seguinte, devido à burocracia do Liceu Samora Moisés Machel. Em 1995, concluiu a décima-primeira-classe (Ensino Médio, no caso), no liceu Agostinho Neto. Um ano depois, fez-se professor de matemática na escola “Amizade Guiné-Bissau / Suécia” (Peré). Em 1997, começou cursar a “electrotecnia” no SITEC, a maior Empresa de Informática do país. Nela, também, trabalhou como instrutor no Cyber-Café. Marcelo Aratum interrompeu suas atividades, quando explodiu o conflito político-militar, em junho de 1998. Era nesse mesmo conflito, que ele perdeu a mãe e sem falar do pai que havia morrido havia doze anos. Em 2002, conseguiu a bolsa de Estudo para o Brasil, em Goiânia, cidade, na qual, teve seu primeiro querido filho, Nanito Soares Aratum. Em 2005, graduou-se em Letras, pela Universidade Católica de Goiás. Ainda estudante, escrevendo esta sua primeira obra e lecionando ao mesmo tempo, nos colégios: Língua Portuguesa, Inglesa e suas respectivas Literaturas. Em 2007, concluiu a sua Pós-Graduação em Docência Universitária, pela mesma instituição universitária. Publicou vários artigos Guiné-Bissau, A República SequestradaPalco de ManobrasCarta de ReflexãoNão Intelectualismo Executivo, etc. Atualmente, exercendo diversas funções e, ao mesmo tempo, professorando.

Marcelo Aratum
noitedaslagrimasemafrica@yahoo.com.br

ESTE É O VERDADEIRO MUNDO, NO QUAL VIVEMOS: Bashar Al-Assad ao lado de um dos mais ditadores universal, Sarkozy
Mais de quatro mil manifestantes, inclusive as crianças morreram desde o início das manifestações que está acontecendo na Síria contra o presidente ditador Bashar Al-Assad. Os militares desse ditador viram que só matar os revoltosos nunca vai pôr fim ao levante, mudaram de estratégia, tendo alvo aos olhos dos manifestantes, deixando-os cegos com balas de borracha. Sabe o que os “GRANDÕES, ” do mundo dito ocidental dizem? Não? Culpa não é sua. Porque o instrumento ou a máquina fundamental da repressão do capitalismo, chamado a imprensa televisiva, jornalística não bombardeia as informações manipuladas como havia acontecido com o grande opositor e defensor do continente África, contra os interesses ocidentais, Muamar Kadafi. EUA, França, Inglaterra afirmam que querem que a solução da Síria seja feita na diplomacia. Por que isso? É desse jeito. Eu havia dito em vários artigos, inclusive neste  site http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=6782 que, esta PESTE que nós temos hoje, neste mundo, no qual impera toda a crueldade em nome de Deus, nunca e jamais disponibilizará suas fortunas em defesa dos povos sofridos sem nenhum interesse. Eles nunca têm pena de ninguém, essa é uma realidade e a sua história nos diz tudo. Usam bilhões e bilhões para derrubar os presidentes que pretendem ameaçar seus interesses, caso contrário, como acontece com os dirigentes da África Negra, mesmo morrendo por dia centenas e centenas de crianças, ou seja, como morrem não se preocupam. Agora olha para mim! Eu não estou falando com este, eu estou falando com você, africano. Você que vê como qualquer ser com os olhos podem ver, e não observa; você que ouve como qualquer ser com os ouvidos, e não escuta, etc. Pare de depositar ou entregar o seu destino a esses monstros que estão comendo você por dentro há séculos. O mundo está correndo, afastando-se desses monstros, levante-se e  corra, por que senão, a sua situação vai se piorando ainda mais. Pare de gritar nome deles e grite com toda a voz os nomes daqueles que estão se afastando dos monstros. Não deixe que seja manipulado com os objetos luxuosos e discursos bonitos, até porque você não é um animal, mas, caso isso vem acontecendo, eu mesmo diria que somos. Por que viver não é simplesmente viver, mas viver bem, viver com a dignidade, viver com a paz e viver sem medo.

Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br

SEGUNDA-FEIRA, 23 DE JANEIRO DE 2012




AS LÁGRIMAS DE UMA MULHER: OS CULPADOS


Sei que sou culpada. Mais que você, não sou. Esta lágrima saltou-se de um só olho, porque alguém é culpado por isso. Esse alguém é você. Você que não pensa em nós. E, só pensa no EU. Depois você fala que não bateu em mim. Mas, como? As lágrimas nunca escorrem num só olho de graça. É verdade que você vive machucando o meu coração com suas palavras e ações monstruosas. E, se tudo tem limite, o meu amor por você também tem, mas, as lágrimas nunca terão. Eu te amo, mas nunca saberá disso, e eu sei. Muito embora o seu coração é igualzinho a de um robô: sem sangue. Muito embora os seus olhos é igualzinho a de um robô: sem lágrimas. Mesmo assim, eu te amo e nem sei explicar isso ao meu pai, que tinha um perfil igualzinho a seu, com a minha mãe. Infelizmente, hoje não estão aqui, mas, estão lá! Sei que um dia, que nem sei quando, mas, em breve, pelo seu coração de ferro, vou lá! 
Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br

TERÇA-FEIRA, 10 DE JANEIRO DE 2012

TRISTEZA , DOR e ANGUSTIA

Outra vez, a notícia triste acordou Guiné-Bissau. Um país que sempre viveu com a dor, angustia desde chega do mal, no século XV. O mal que se estendeu até os nossos dias, com seus vírus mortíferos. Vem a se fortalecendo ainda mais nestes últimos anos, e, consequentemente, menos de quatro anos tombaram dois presidentes em pleno exercício.
Neste momento, não sei explicar a ninguém como que os males estão se preparando, depois da morta de uma parte da esperança da nação guineense, para atacar de novo, criando outras instabilidades e banho de sangue. Mas, só sei que, no dia 09 deste ano, 2012, segundo disseram, caiu um homem que tinha amor à vida e amor ao seu povo. Um homem que conseguiu derrubar as tempestades com seu coração doce quanto seu pensamento. Um homem que falava com seus terríveis oponentes, vestidos com a camisa de fogo, mas, este tal homem usava o sorriso para apagar o próprio fogo. Vivia lutando, mesmo desgastado com a doença, mas, sentava e tentava utilizar o seu principal ferramenta, a palavra, para convencer os não convencidos. Geralmente chorava que queria viver, para organizar e desintoxicar a mente daqueles que se acham que o país deve ser conduzido aos seus bel-prazeres. E, que deve prevalecer mais a presença do corpo que a mente. Torturando até a morte seus contrários. O homem morreu, e não morrerá a sua emocionante história. Creio que o amanhã saberá que um dia, neste país, viveu um homem com a mente forte, chamado Balam Bacai Sanhá. Saberá que tantas vezes ele tentou chegar ao alto cargo da nação, mas, após de dois anos do sonho concretizado, foi jazido pela doença fatigante. Deite em paz na nossa mente. 
Agora. Dentre a monstruosa política vigente na Guiné-Bissau, provavelmente ninguém teria a coragem de olhar o problema da nação e pedir que se organizem as eleições depois da sua data prevista. A não ser esta: temos que respeitar a constituição e cumprir a sua determinação. Claro, todos os guineenses concordariam com a suposta alegação, porém, não devemos também ignorar a realidade péssima que o país está vivendo neste momento e partir para questão pessoal ou partidária.
A quem se acha é principal substituto desse grande e glorioso guineense, deve fazê-lo nos momentos apropriados sem criar tumulto, ou seja, usar mais a inteligência. Caso contrário, continuará para sempre o indesejável. O pior de tudo seria a própria nação guineense o principal derrotado.
Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br

QUINTA-FEIRA, 5 DE JANEIRO DE 2012

PÁGINA DA REFLEXÃO


RÁPIDAS MELHORAS
Este é o meu presidente da república, com seu estado de saúde debilitado. O mundo nem sabe, nem importa a saber dele. Diferentemente dos outros presidentes, com dor nos dedos, vira notícia internacional, embutida de emoções, levando-nos a chorar com as velas em mãos.
Mas, isso não deve te preocupar o nosso glorioso e soberano Malam Bacai Sanhá. O mundo não fala da sua doença, até porque ninguém é obrigado a falar de ninguém, mas, saiba que, neste momento, todos nós, guineenses, estamos pedindo que o ano 2012 traga para Vossa Excelência as rápidas melhoras. A sua excelência tem um valor acima de qualquer valor internacionalmente falando. Um presidente que preside o país com coração humano, reflexão, diálogo, sorriso e muitos outros valores. Se o valor não vem de fora, ele flutua dentro da própria nação, então, nós nos valorizamos: Sanha, você está acima de qualquer um. Estamos juntos nessa sua doença. Continue acreditando em viver e nos guineenses que os elege. Feliz 2012, Sanhá presidente.          

Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br

NOITE DAS LÁGRIMAS EM ÁFRICA

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Seja bem-vindo ao blogger das minhas obras literárias. Também, neste blogger, reflete sobre a realidade africana que se resume no contexto da Guiné-Bissau.

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